Lobo e Cordeiro
Diga-me, nobre e tão valente irmão,
O que lhe detém sequestrado na baia desta
cólera?
Tens o nome ou a idade desta força se
mostrando?
Deste algo que lhe imputa os severos
desapreços?
Trarás domínios sobre o que deteriora a tua
paz?
Grosso modo perscrutando, porventura é você:
O novo inquilino no universo das gentes
incomunicáveis?
Dos que me tardam o tempo com o silêncio que perturba?
Refém de alguma agrura de humanos rotos e
ininteligíveis?
Feito o tolo que se lança em dúvidas ao vento
setentrional?
Que resposta há em ti e faz sanar estas
minhas lucubrações?
É incógnita que fomenta toda essa tua intensa
destemperança?
É de uma razão outra para bem maior ainda não
equacionado?
Amor platônico que aflora e fere os sentimentos
que lhe restou?
Que é este turbilhão que talha a rocha deste
teu indócil coração?
Faça-me saber as rotas destas tuas
desventuras!
Do por que destas tuas birras?
Este modo choro descomunal?
Do volver-se nesse pó do chão?
Alguma insegurança?
Uma má perspectiva?
Será o ministério infinito?
Uma tola premonição?
Dente siso infeccionado?
Outrora má compreensão?
São por agouros ditos em resmungos?
A visão esquisita dos teus fantasmas?
Que há no hoje que tanto o inquieta?
Do que é isto, visto saltar com brilho dos
teus olhos?
Quer a tua vontade, algo provocar?
Provar á outrem sem que eu o veja?
Para alguém que eu não o conheça?
Tens um pouco mais do aquém do razoável?
Do além que lhe disse para expandir o finito?
De que mais? A que mais? Para
quantos mais?
Dentro destas trevas, não há ninguém que te
ouça?
Um fora de ti que recicle a atenção que te mereça?
Alguém desperto por este teu calor que
incinera?
Instruam-me e mapearei os passos da tua sagacidade!
Quer refutar da vida os dissabores?
Reiterar os opúsculos de anedotas?
Retratar desculpas contigo mesmo?
Evidenciar os perigos para o mundo?
O que é feito pelas tuas assombrações?
Do que virá destes teus velhos medos?
Remonta-me compreensões sobre essas outras
cinco linhas!
É luz na consciência que lhe traz a lucidez
de alguma desgraça tua?
Ambiguidade cotidiana lhe pondo destronado das
boas intenções?
É do que lhe foi servido como peso indigesto pelo
inimigo, o acaso?
Corroborar que essas tuas lagrimas geminam as
saídas para a vida?
Que teu cálculo incerto definha o que é de um
pensamento exato?
E ponho um pouco mais da lenha seca de
memórias nesta tua irá?
Certamente que lhe será para incendiar os
outros mil desgostos!
E na noite em que a tua amargura era contra a
alvorada boreal,
O que lhe furtou o sono e acordado gritou
demasiado pesadelo?
Será do que têm em ti, como vil segredo?
No que a tua alma permanece trancafiada?
De teus sinistros e de escusos anonimatos?
Do que percorre em tuas veias de intenções?
Brotam de ti belicosas angustias!
O bolsão medonho gira na orbita dos teus
olhos.
Não há existência da glória ou de clara visão
em ti!
Temo, por compreender-te, padecido de oco
juízo.
Imediatismo foi-lhe o chá servido, qual
emancipou as tuas antecipações.
Em ti há tantas e tamanhas dúvidas, como farpas
das tuas interrogações.
Bastasse crer e, desentortá-las, seriam
grandes pontos de exclamações.
Estão os teus ouvidos ensurdecidos!
Tímpanos rompidos por mentiras da anômala
multidão.
A multidão que neutraliza a sua alma!
Fazendo-te duas vezes detido, no que tu finges
não o ser.
A infame multidão que entoa as gritarias dos
insensatos?
Voz de comando que processa os teus próximos
medos?
O opaco destes teus imaginários?
A quem queira algo confirmar?
Os motivos das tuas birras?
O espelho da tua cólera?
Deste todo o teu ardor?
É com sublime interesse que me confesso á ti:
Certa noite eu o contemplei! De longe os meus
olhos te viram.
Outros mais te viram e dançavam contra ti em
ritmo estranho.
Olhando eu para a expressão dos teus
desgostos, saltei-me em curiosidade.
Você é a minha curiosidade e na dança
maquiavélica daqueles, eu os esqueci!
Indo você para a direita, os teus passos eu os
contava.
E quando vacilantes para a esquerda, eu os
recontava.
Estive absorto em mim mesmo... Pasmo em
admirações...
Curioso para saber qual o monólogo a tua alma
recitava.
Noutro dia, ao pino do sol, do que correndo,
as tuas pernas fugiam?
Seria a fuga em razão de alguma vergonha tua?
Talvez, contra as que lhe foram insinuantes?
Ou, das que lhe são abonadas confidentes?
Fale-me em tua sinceridade convincente:
Do que a todo custo, tanto tenta liberta-te?
Criar mil rupturas estancaria as tuas crises?
Significará alívio de algum mau (in)
desejado?
Venha e senta-te ao meu lado!
Por sua insegurança, não me tenha como
inimigo.
Refaçamo-nos do espanto e todo este grave e
pesado susto.
Restituamos
um ao outro a atenção e cordial amabilidade.
Torne ás nossas narinas o ar fresco para vigor
do nosso fôlego.
Peço-te:
Deixe-me saber destes teus segredos.
Na mais funda cova eu os enterrarei.
Permita-me!
E na mais alta nuvem eu os colocarei.
Conclusão:
Outrora, a imprudência fez-me subestimar o
lobo.
Após, o fel descido no meu esôfago se fez
sentir!
Desde então é que aprendi a exercitar três
coisas:
O que deve ser restrito ao meu silêncio.
Prover meus olhos com desconfianças.
Rever os fatos com a estrita vigilância.
Assim eu aprendi a caminhar, no vale do lobo,
Com a minha lã e pele de cordeiro, preciosos.
Raitler Matos.
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